quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Referencial de Formação STC_6


Modelos de Urbanismo e Mobilidade


Resultados de Aprendizagem
  • Associa conceitos de construção e arquitectura à integração social e à melhoria do bem-estar individual.
  • Promove a qualidade de vida através da harmonização territorial em modelos de desenvolvimento rural ou urbano.
  • Compreende os diferentes papéis das instituições que trabalham no âmbito da administração, segurança e território.
  • Reconhece diferentes formas de mobilidade territorial (do local ao global), bem como a sua evolução.


Conteúdos

Processos de mudança fundamentais na geografia das populações, em particular, os intensos fluxos de migração, emigração e imigração que ocorreram no território português, desde o início do século XX
Conceitos-chave: densidade populacional, área urbana, êxodo rural, terciarização, modelo de desenvolvimento, emigração, imigração.
  • Distribuição da população no território português, enfatizando as grandes assimetrias regionais em termos de densidade populacional e a emergência de grandes áreas urbanas
  • O processo de êxodo rural, litoralização e progressivo despovoamento do interior, a partir da transformação profunda dos critérios de atractividade e repulsividade dos diferentes locais
  • Relação entre o crescimento das cidades, a melhoria das acessibilidades e a industrialização e terciarização dos sistemas económicos
  • Diferentes modelos de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida, tanto em contexto urbano como em contexto rural
  • Novas tendências na relação espaço-campo e, em particular, novos padrões residenciais, impulsionados pela melhoria das acessibilidades e das telecomunicações
  • A situação de Portugal como um país de emigração e imigração: novas facetas deste fenómeno resultantes da criação de um território europeu de livre circulação


Princípios psicológicos associados à integração e bem-estar, com enfoque nos contextos de desenvolvimento e nos processos de mudança de meio envolvente
Conceitos-chave: comunidade, bem-estar, modelo ecológico do desenvolvimento, adaptação, transferência cognitiva.
  • O funcionamento e o papel social das comunidades como promotoras de desenvolvimento e bem-estar pessoais
  • Os diferentes contextos no modelo ecológico do desenvolvimento (macro-sistema, meso-sistema, exo-sistema, micro-sistema)
  • Factores de risco e de protecção em cada um dos sistemas
  • Mecanismos de adaptação e transferência cognitiva, inerentes a qualquer processo de mobilidade individual entre diferentes comunidades (possibilidades e limitações)


Conceitos fundamentais nos processos de construção do espaço de vivência (arquitectura) e de ordenamento do território
Conceitos-chave: necessidade, satisfação, habitat, espaço, urbanidade, modelo territorial.
  • As necessidades do Homem no seu habitat (habitação, trabalho, convívio, alimentação, deslocação, etc.)
  • A dimensão física do espaço de vivência, considerando as componentes de estar e deslocar
  • Relação da organização e da construção do espaço urbano, entre o estar e o deslocar, com a satisfação das necessidades do Homem
  • Caracterização dos modelos territoriais de organização do espaço de vivência: formas de medição e análise dos padrões de ocupação de solo e configuração de vias de comunicação de diferentes tipos de transporte

As variáveis físicas que limitam o desenvolvimento do espaço urbano

Princípios físicos na organização e gestão do espaço habitável
Conceitos-chave: fluxos, matéria, energia, circulação, resíduo, eficiência.
  • Fluxos materiais e energéticos no interior dos espaços urbanos e entre estes e os espaços adjacentes
  • Medição, análise e interpretação da circulação de ar, água e seres vivos, bem como da produção de resíduos e o consumo de energia no espaço urbano
  • Medição, análise e interpretação dos fluxos materiais e energéticos do lar, associando as variáveis determinantes para a gestão eficiente daqueles (equipamentos utilizados, construção do espaço, orientação solar, comportamentos de utilização de energia, etc.)


Áreas do Saber: Psicologia, Geografia, Arquitectura/Ordenamento do Território, Física, Matemática.


Recursos
Evolução das Assimetrias Regionais, DPP, 2006. Backup

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Justificação da referência ao Coeficiente de Correlação

Resposta às críticas sobre a ficha Coeficiente de Correlação de Pearson - r.


Lê-se nos critérios de evidência da Unidade 7, DR2:

  • Actuar tendo em conta o papel da ciência, reconhecendo as suas pertinência e limitações, nos debates públicos e face aos diferentes jogos de poder, criando evidência para essa actuação baseada em modelos matemáticos.



A referida ficha apenas apresentou graficamente, portanto de um modo acessível e intuitivo, uma ferramenta matemática e estatística a título de exemplo, evidenciando a sua pertinência e limitações para a construção do conhecimento científico, que se reproduz nos debates públicos e face aos diferentes jogos de poder.
Para todos os formandos ficou evidente que (1) a matemática e a estatística são uma linguagem, que simultaneamente transportam (2) uma forma de raciocínio.

Nas suas reflexões, puderam pensar em coisas simples da sua história de vida como:
- a correlação entre a escolaridade que estão a obter e a remuneração esperada;
- a correlação entre o poder de compra e a limitação voluntária da natalidade;
- a endogamia que verificam nos casamento de muitos grupos profissionais: professores cassados com professoras, médicos com médicas, etc.


Suponho que tudo isto está ao alcance de um aluno dos cursos EFA.


Cacem, 29 de Outubro de 2008.

José Manuel Neto

domingo, 19 de outubro de 2008

O que é uma reflexão?

Reflectir significa voltar a examinar-se a si mesmo. É suposto que após a aquisição de novas ferramentas cognitivas, os conceitos de STC que são apresentados em cada ficha, permitem observar as nossas histórias de vida numa perspectiva diferente.



Exemplo de reflexão a propósito da 1ª ficha:


No conceito weberiano de acção social devemos sublinhar (1) a intenção que motiva os indivíduos, mas também não podemos esquecer que (2) os actores se orientam se orientam por comportamentos esperados dos outros indivíduos e grupos sociais. Por exemplo, sem dúvida nenhuma que posso agradecer o meu investimento na informática à urgência de ultrapassar as deficiências motoras, limitação que transformei em motivação. A generalidade das pessoas nunca têm uma apetência tão grande pela informática porque nunca sentiram a mesma necessidade. Se eu não compreendesse que os indivíduos agem em função dos interesses, viveria em sistemático confronto com todos os colegas. A Sociologia tranquiliza-me, na medida em que compreendo que cada qual tem as suas tarefas definidas pela Escola, onde sou apenas mais um professor. Simultaneamente sinto alguma inquietação quando reflicto sobre o facto das novas tecnologias, terem mudado tudo: a comunicação humana, o lazer, o trabalho, a memória colectiva, os modelos de mercado e das transacções, o exercício do poder. É desastroso que as pessoas da Escola reflictam ainda dez anos depois sobre os perigos da Internet e que as Escolas se tenham tornado ambientes de trabalho menos informatizados que a sociedade, menos equipadas que a maior parte das empresas e das famílias. Estas tecnologias são incontornáveis e representam, apesar dos seus efeitos perversos, um progresso importante, onde o papel da Escola é evidentemente tentar oferecer as suas chaves.
Os alunos dos estratos inferiores ou têm a sua iniciação a estas ferramentas na Escola ou dificilmente terão oportunidades mais tarde, pelo que o combate à iliteracia digital é também um aspecto importante para reduzir as disparidades ao nível da repartição do rendimento. Os alunos dos estratos mais baixos são certamente os que tem mais a ganhar quando gasto mais tempo a utilizar computadores, mas paradoxalmente são os menos participativos, porque a sua insegurança os leva a recear "dar bronca" e serem motivo de galhofa na turma. É complicada a tarefa dos professores!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Consequências da Modernidade

A obra de Giddens é um excelente ponto de partida para a reflexão sobre os limites do conhecimento científico, a sua utilização pelos poderes instituídos e consequências sobre a nossa vida privada.



   

GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade, Celta Editora. Para Giddens, a modernidade “refere-se a modos de vida e de organização do social que emergiram na Europa cerca do século XVII e que adquiriram, subsequentemente, uma influência mais ou menos universal”. (2000:1). O dinamismo da modernidade resulta da separação do tempo e do espaço (relógio mecânico, fim do século XVIII) e da sua recombinação sob formas que permitem o exacto "zonamento" espacio-temporal da vida social, forçando à descontextualização dos sistemas sociais. Por descontextualização entende-se a "desinserção" das relações sociais dos contextos locais de interacção e a sua reestruturação através de extensões indefinidas de espaço-tempo (2000:15).
  • Família / Novas modalidades familiares
  • Trabalho / Emprego
  • Educação / Escolarização
  • Riqueza / “Dinheiro”
  • Internet... da rede de máquinas à rede de pessoas – recontextualização?
Giddens observa que vivemos uma época marcada pela desorientação, pela sensação de que não compreendemos plenamente os eventos sociais e que perdemos o controle. A modernidade transformou as relações sociais e também a percepção dos indivíduos e colectividades sobre a segurança e a confiança, bem como sobre os perigos e riscos do viver. Giddens considera que a modernidade é multidimensional ao nível das instituições, e pode sintetizar-se na imagem da condução do JAGRENÁ. (“Juggernaut” no original, refere-se a um mito religioso hindu, com origem na palavra “Jaggannath”, “senhor do Mundo”, que é um dos nomes de Krishna. Uma imagem desta divindade era levada todos os anos pelas ruas num enorme carro, sob o qual se lançavam, sendo esmagados pelas suas rodas.) O leigo - e todos nós somos leigos no que respeita à maioria dos sistemas periciais - tem de conduzir o carro de Jagrená. A falta de controlo que muitos de nós sentimos no que toca a algumas circunstâncias das nossas vidas é real. Tudo pode desaparecer agora, a civilização, a história, a natureza. CATÁSTROFE ECOLÓGICA? Como poderemos considerar riscos tão afastados do nosso controlo individual? A MAIOR PARTE DE NÓS NÃO PODE. Quem se preocupa com a possibilidade de uma catástrofe ecológica tende a ser considerado psiquicamente perturbado. Embora não seja irracional que alguém estivesse permanentemente e conscientemente angustiado, esta forma de ver paralisaria a vida quotidiana normal. Numa reunião social este assunto é inconveniente. Na modernidade, a pericialidade aplica-se até à intimidade. (Exemplo: É mais seguro confiar no teste HIV que na historieta do parceiro!!! E depois do teste?). Max Weber – Os elos da racionalidade são cada vez mais apertados!!! Karl Marx – O capitalismo é uma maneira irracional de governar o mundo, uma vez que substitui a satisfação controlada das necessidades pelos caprichos do mercado!!! Reacções adaptativas (Giddens) 1) Aceitação pragmática – Convive bem com a catástrofe ecológica porque nem pensa nela, pois se pensasse seria aterrador 2) Optimismo persistente – Acreditam que podem ser encontradas soluções tecnológicas e sociais para os problemas 3) Pessimismo cínico – Faça-se o que se fizer as coisas correrão mal, portanto o melhor é gozar o dia de hoje 4) Activismo radical – Atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas Porque é que vivemos num mundo tão descontrolado? (Muito diferente daquele que os iluministas anteviram) Porque é que a “razão harmoniosa” não produziu um mundo sujeito à nossa predição e controlo? What’s the point? Como minimizar os perigos e maximizar as oportunidades que a modernidade nos oferece?
  • Consequências não pretendidas

    • Defeitos de concepção – Será que os sistemas abstractos que proporcionam a descontextualização das relações sociais sofrem defeitos de concepção que, quando os levam a funcionar mal, nos fazem sair das vias de desenvolvimento que projectámos?
      (Exemplo: a máquina fiscal que tem como objectivo teórico uma redistribuição mais justa dos rendimentos, promove a iniquidade, dado o elevado nível da evasão fiscal. Será defeito de concepção ao nível do sistema fiscal ou ao nível do sistema de valores?)

    • Falhas de operação – Uma boa concepção pode reduzir os defeitos de concepção, mas desde que estejam envolvidos seres humanos o risco existirá.
      (Exemplo: o bom desenho de uma estrada não evita os acidentes; Chernobyl)

    • Complexidade dos sistemas – As consequências da sua introdução e funcionamento noutros contextos da actividade humana não podem ser completamente previstas
      (Exemplo: a expansão das instituições ocidentais estará na origem do fundamentalismo religioso)
  • Circularidade do conhecimento social
    • Os novos conhecimentos não tornam o mundo social mais transparente, mas alteram a sua natureza, reorientando-o em novas direcções (Exemplo: Os novos “conhecimentos científicos” vão prescrevendo dietas....)
  • Poder diferencial
    • As desigualdades de poder no mundo são gritantes. A ausência de direitos incapacita as pessoas na luta contra a pobreza (Exemplo: 1,4 biliões de pessoas vivem com menos de US$1,25 por dia. Falta a caridade ou a justiça? Fonte: http://www.worldbank.org/)
  • Papel dos valores
    • Ver exemplo dos defeitos de concepção


PODEMOS FAZER ALGUMA COISA?
Realismo utópico - A visualização de futuros alternativos, pela sua visualização, pode ajudar a que estes se realizem. As mudanças sociais benéficas exigem muitas vezes a utilização de poder diferencial, detido apenas pelos privilegiados, contrariando a perspectiva de Marx.


1. Aponte alguns traços característicos da modernidade.
2. Apresente alguns exemplos de sistemas periciais.
3. Refira algumas instituições com interesses distintos
4. Justifique a sensação de insegurança e de perigo que os indivíduos sentem.
5. Justifique a impossibilidade de cada um de nós considerar os riscos de uma catástrofe ecológica.
6. Mostre que três das reacções adaptativas propostas por Giddens constituem mera fuga ao problema.
7. Mostre que uma reacções adaptativas propostas por Giddens constitui a modo racional de encarar a catástrofe ecológica.
8. Apresente novos exemplos em cada uma das categorias de “consequências não pretendidas”.
9. Refere-te à presença crescente da ciência e dos cientistas em debates relaccionados com o “ambiente/aquecimento global”, bem como à utilização do conhecimento científico por outros actores envolvidos na controvérsia.
10. Mostra como a argumentação científica utilizada não é suficiente para justificar os pontos de vista em jogo.
11. Explora a utilização da ciência pelos poderes em geral como argumento de validação de diferentes pontos de vista




Núcleo Gerador: Saberes Fundamentais
Dimensões das Competências: : Sociedade, Ciência
Domínios de Referência: DR3 – Saberes, Poderes e Instituições
Elementos de Complexidade: Tipo I, II e III