quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Consequências da Modernidade

A obra de Giddens é um excelente ponto de partida para a reflexão sobre os limites do conhecimento científico, a sua utilização pelos poderes instituídos e consequências sobre a nossa vida privada.



   

GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade, Celta Editora. Para Giddens, a modernidade “refere-se a modos de vida e de organização do social que emergiram na Europa cerca do século XVII e que adquiriram, subsequentemente, uma influência mais ou menos universal”. (2000:1). O dinamismo da modernidade resulta da separação do tempo e do espaço (relógio mecânico, fim do século XVIII) e da sua recombinação sob formas que permitem o exacto "zonamento" espacio-temporal da vida social, forçando à descontextualização dos sistemas sociais. Por descontextualização entende-se a "desinserção" das relações sociais dos contextos locais de interacção e a sua reestruturação através de extensões indefinidas de espaço-tempo (2000:15).
  • Família / Novas modalidades familiares
  • Trabalho / Emprego
  • Educação / Escolarização
  • Riqueza / “Dinheiro”
  • Internet... da rede de máquinas à rede de pessoas – recontextualização?
Giddens observa que vivemos uma época marcada pela desorientação, pela sensação de que não compreendemos plenamente os eventos sociais e que perdemos o controle. A modernidade transformou as relações sociais e também a percepção dos indivíduos e colectividades sobre a segurança e a confiança, bem como sobre os perigos e riscos do viver. Giddens considera que a modernidade é multidimensional ao nível das instituições, e pode sintetizar-se na imagem da condução do JAGRENÁ. (“Juggernaut” no original, refere-se a um mito religioso hindu, com origem na palavra “Jaggannath”, “senhor do Mundo”, que é um dos nomes de Krishna. Uma imagem desta divindade era levada todos os anos pelas ruas num enorme carro, sob o qual se lançavam, sendo esmagados pelas suas rodas.) O leigo - e todos nós somos leigos no que respeita à maioria dos sistemas periciais - tem de conduzir o carro de Jagrená. A falta de controlo que muitos de nós sentimos no que toca a algumas circunstâncias das nossas vidas é real. Tudo pode desaparecer agora, a civilização, a história, a natureza. CATÁSTROFE ECOLÓGICA? Como poderemos considerar riscos tão afastados do nosso controlo individual? A MAIOR PARTE DE NÓS NÃO PODE. Quem se preocupa com a possibilidade de uma catástrofe ecológica tende a ser considerado psiquicamente perturbado. Embora não seja irracional que alguém estivesse permanentemente e conscientemente angustiado, esta forma de ver paralisaria a vida quotidiana normal. Numa reunião social este assunto é inconveniente. Na modernidade, a pericialidade aplica-se até à intimidade. (Exemplo: É mais seguro confiar no teste HIV que na historieta do parceiro!!! E depois do teste?). Max Weber – Os elos da racionalidade são cada vez mais apertados!!! Karl Marx – O capitalismo é uma maneira irracional de governar o mundo, uma vez que substitui a satisfação controlada das necessidades pelos caprichos do mercado!!! Reacções adaptativas (Giddens) 1) Aceitação pragmática – Convive bem com a catástrofe ecológica porque nem pensa nela, pois se pensasse seria aterrador 2) Optimismo persistente – Acreditam que podem ser encontradas soluções tecnológicas e sociais para os problemas 3) Pessimismo cínico – Faça-se o que se fizer as coisas correrão mal, portanto o melhor é gozar o dia de hoje 4) Activismo radical – Atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas Porque é que vivemos num mundo tão descontrolado? (Muito diferente daquele que os iluministas anteviram) Porque é que a “razão harmoniosa” não produziu um mundo sujeito à nossa predição e controlo? What’s the point? Como minimizar os perigos e maximizar as oportunidades que a modernidade nos oferece?
  • Consequências não pretendidas

    • Defeitos de concepção – Será que os sistemas abstractos que proporcionam a descontextualização das relações sociais sofrem defeitos de concepção que, quando os levam a funcionar mal, nos fazem sair das vias de desenvolvimento que projectámos?
      (Exemplo: a máquina fiscal que tem como objectivo teórico uma redistribuição mais justa dos rendimentos, promove a iniquidade, dado o elevado nível da evasão fiscal. Será defeito de concepção ao nível do sistema fiscal ou ao nível do sistema de valores?)

    • Falhas de operação – Uma boa concepção pode reduzir os defeitos de concepção, mas desde que estejam envolvidos seres humanos o risco existirá.
      (Exemplo: o bom desenho de uma estrada não evita os acidentes; Chernobyl)

    • Complexidade dos sistemas – As consequências da sua introdução e funcionamento noutros contextos da actividade humana não podem ser completamente previstas
      (Exemplo: a expansão das instituições ocidentais estará na origem do fundamentalismo religioso)
  • Circularidade do conhecimento social
    • Os novos conhecimentos não tornam o mundo social mais transparente, mas alteram a sua natureza, reorientando-o em novas direcções (Exemplo: Os novos “conhecimentos científicos” vão prescrevendo dietas....)
  • Poder diferencial
    • As desigualdades de poder no mundo são gritantes. A ausência de direitos incapacita as pessoas na luta contra a pobreza (Exemplo: 1,4 biliões de pessoas vivem com menos de US$1,25 por dia. Falta a caridade ou a justiça? Fonte: http://www.worldbank.org/)
  • Papel dos valores
    • Ver exemplo dos defeitos de concepção


PODEMOS FAZER ALGUMA COISA?
Realismo utópico - A visualização de futuros alternativos, pela sua visualização, pode ajudar a que estes se realizem. As mudanças sociais benéficas exigem muitas vezes a utilização de poder diferencial, detido apenas pelos privilegiados, contrariando a perspectiva de Marx.


1. Aponte alguns traços característicos da modernidade.
2. Apresente alguns exemplos de sistemas periciais.
3. Refira algumas instituições com interesses distintos
4. Justifique a sensação de insegurança e de perigo que os indivíduos sentem.
5. Justifique a impossibilidade de cada um de nós considerar os riscos de uma catástrofe ecológica.
6. Mostre que três das reacções adaptativas propostas por Giddens constituem mera fuga ao problema.
7. Mostre que uma reacções adaptativas propostas por Giddens constitui a modo racional de encarar a catástrofe ecológica.
8. Apresente novos exemplos em cada uma das categorias de “consequências não pretendidas”.
9. Refere-te à presença crescente da ciência e dos cientistas em debates relaccionados com o “ambiente/aquecimento global”, bem como à utilização do conhecimento científico por outros actores envolvidos na controvérsia.
10. Mostra como a argumentação científica utilizada não é suficiente para justificar os pontos de vista em jogo.
11. Explora a utilização da ciência pelos poderes em geral como argumento de validação de diferentes pontos de vista




Núcleo Gerador: Saberes Fundamentais
Dimensões das Competências: : Sociedade, Ciência
Domínios de Referência: DR3 – Saberes, Poderes e Instituições
Elementos de Complexidade: Tipo I, II e III