sábado, 23 de outubro de 2010

Aplica princípios de gestão de recursos na compreensão e melhoria do funcionamento de organizações produtivas (públicas ou privadas)

A gestão de recursos na administração pública não é um mero exercício técnico, mas encontra-se subordinado a opções políticas e correntes ideológicas. Podemos simplificar este debate distinguindo desde o final da II Grande Guerra duas posições doutrinárias distintas:

- os liberais sempre têm defendido que o Estado deveria reduzir ao mínimo a sua participação na actividade económica, porque os preços são estabelecidos mais eficientemente pela Mão Invisível (Adam Smith);


- os keynesianos julgaram que com o seu modelo teórico tinham dotado os Estados de uma ferramenta que lhes permitiria ultrapassar todas as crises. Por exemplo, uma situação de desemprego e recessão na economia poderia ser facilmente ultrapassada com um aumento da despesa pública (G), que aumentaria a procura agregada (AD), atingindo as economias maiores níveis de produção, rendimento (Y) e emprego... com taxas de juro (i) inferiores...


O vídeo abaixo explica a morte e ressurreição da teoria keynesiana na explicação da crise espanhola e europeia, argumentos que também se aplicam à economia portuguesa.


A IMPORTÂNCIA DA ESTATÍSTICA NO PENSAMENTO ECONÓMICO
i. Paralelamente ao desenvolvimento da receita para controlar os ciclos económicos a curto prazo, que os economistas acreditam ter descoberto através do modelo keynesiano, que se tornou relevante para o estabelecimento da política económica, criaram a informação económica, designadamente através dos sistemas de contabilidade nacional.

ii. Planificação indicativa dos grandes investimentos públicos.

iii. Em 1950-1975 registou-se um esforço para unificar o debate económico e social em torno de uma linguagem comum (plano, macroeconomia keynesiana, crescimento, contabilidade nacional, sociologia das desigualdades sociais e dos seus indicadores estatísticos, negociações colectivas apoiadas pelo Estado entre o patronato e os sindicatos, sobre os salários inscritos nas grelhas convencionais, sistema redistributivo e protecção social).

iv. Foi igualmente criada uma linguagem antes inexistente, (PIB, procura interna, inflação, desemprego,..) relativamente coerente, pela via do vocabulário e das ferramentas estatísticas.

v. Os indicadores económicos passam a integrar-se na rede das representações comuns, e então, deste ponto de vista tornam-se realidades.

vi. De facto a realidade de um objecto depende da extensão e da robustez da rede mais larga dos objectos na qual está inscrito.

vii. Esta linguagem foi difundida através das universidades, e depois no ensino secundário.

viii. No fim dos anos 1970, as redes de equivalência conduziram às de totalizações políticas e estatísticas demolindo-se a si mesmas parcialmente, porque os modelos econométricos se revelaram frequentemente incapazes de prever as tensões e as crises. Seria previsível a de 1973?

ix. A paragem do crescimento tornou mais difícil a reunião dos parceiros sociais para debaterem os efeitos da crise, que a divisão dos benefícios.

x. Nas economias abertas não funcionam os modelos keynesianos, válidos nas autarcias, porque o aumento da procura se reparte pelo mundo.

xi. Esta plataforma de pensamento disseminado, é (talvez) ainda a única, que nos permite discutir e pensar o mundo social... porque temos que utilizar os seus indicadores!

O actual debate do Orçamento de Estado para 2011 parece resumir-se a  meras "questões técnicas" num cenário de inevitabilidade porque entretanto se esfumaram as diferenças doutrinárias entre liberais e keynesianos. Além disso, desde finais dos anos 80 que nenhum economista se atreve a defender a gestão de recursos sob a lógica do modelo socialista, sendo a queda do muro de Berlim (1989) um possível marco do triunfo do Capitalismo inquestionável à escala global.

Como o modelo socialista não constitui alternativa ao modelo capitalista, os keynesianos não constituem alternativa aos liberais, as "falhas do capitalismo" parecem sistémicas e inevitáveis. Mais, estas "falhas" desacreditam os próprios economistas e a teoria económica, legitimando que cada um possa apresentar sugestões para os problemas económicos baseando-se no seu bom senso e em juízos morais. (Exemplo)

Provocação: Lucros do BCP terão subido 26% nos primeiros nove meses do ano / Esta carta foi direccionada ao banco BES, porém devido à criatividade com que foi redigida, deveria ser direccionada a todas as instituições financeiras

Apesar das falhas que o sistema Capitalista evidencia, particularmente desde a crise de 2008, alguns princípios de gestão de recursos parecem inquestionáveis. Exemplo: Lei das economias de escala:  Dentro de determinados limites, à medida que aumenta o nível de produção, os custos unitários baixam.

Quando o volume de produção aumenta, podem existir economias em edifícios, equipamentos, administração, vendas, publicidade, etc. Uma vez que os custos fixos passaram a ser distribuídos por maior volume de produção, os custos unitários baixaram.

No limite, para volumes elevados da produção, quando os custos fixos unitários (CF/Q) tendem para zero, o custo unitário aproxima-se do custo variável unitário (CV/Q). Por outras palavras, o custo unitário aproxima-se do valor dos inputs necessários à sua produção: matérias-primas, mão-de-obra directa, energia, etc.
A lei das economias escala explica, por exemplo, que para conseguir obter custos suficientemente competitivos (baixos), as empresas precisam de ter uma dimensão crítica (produzir acima de determinado volume), ou não terão hipótese de se manter num mercado concorrencial.

É hoje consensual que o período de Governação de Cavaco Silva (1985/95) foi uma oportunidade perdida irrepetível de Portugal se integrar plenamente na União Europeia, pois beneficiou de volumosos recursos financeiros que não financiaram as necessárias alterações estruturais da economia. Desperdiçaram-se os recursos financiando importações, criou-se um padrão de consumo privado e de despesa pública que só eram possíveis recorrendo ao crédito. Cavaco Silva pode ser apontado como o pai da nossa dívida pública e do nosso défice orçamental, visto que estes indicadores não teriam expressão anteriormente.


Como poderá a Europa libertar-nos da pobreza?


Uma perspectiva de Portugal do Contexto da União Europeia em imagens

1. Verifique que o desenvolvimento da linguagem da gestão de recursos se encontra indissociavelmente associada ao seu (in)sucesso.

2. Distinga o modelo capitalista do modelo socialista quanto à gestão de recursos financeiros e humanos.

3. Justifique a concentração económica em Grandes Grupos que dominam as actividades. Refira alguns exemplos.

4. Verifique que o sucesso do modelo keynesiano surgiu da esperança em responder às crises do sistema capitalista. Mostre recorrendo à discussão do Orçamento de Estado para 2011 que este modelo foi abandonado. Justifique.

5. Discuta a aparente inevitabilidade de condenação de Portugal como país periférico - após o esbanjamento dos fundos comunitários - considerando os seguintes aspectos: dimensão da economia; espírito de iniciativa dos empresários portugueses; ausência de um quadro normativo e moral favorável ao desenvolvimento; fragilidade das infra-estruturas; o reduzido investimento em inovação, investigação e desenvolvimento; a incapacidade do sistema judicial; o distanciamento do sistema político; outros factores que considere relevantes.

6. Apresente algumas críticas que as pessoas têm feito aos problemas económicos baseadas na simples bom senso e/ou nos valores morais. Pronuncie-se quanto ao impacto da sociedade da Informação no desenvolvimento deste tipo de juízos.





Núcleo Gerador: Relações Económicas
Dimensões das Competências: Sociedade, Tecnologia e Ciência
Domínios de Referência: DR2 Gestão de Recursos
Elementos de Complexidade: Tipo I, II e III